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Mercado

25 de Setembro de 2018

Volume de crédito imobiliário é metade do concedido há quatro anos

O preço médio dos imóveis caiu 19% em relação ao pico de 2014. As taxas de juros estão muito próximas das mínimas históricas. Bancos e empresários do setor imobiliário afirmam que não houve aperto nos critérios para a concessão de crédito para moradias. No entanto, o total de financiamento imobiliário novo nos últimos 12 meses é 50% menor do que o dinheiro emprestado em 2014 ou 2015, no caso de pessoas físicas. Para pessoas jurídicas, a baixa real (descontada a inflação) é de cerca de 80%. De um ano para cá, há sinais de melhora nas vendas, mas um movimento que mal permite o setor sair do fundo do poço. Mesmo que o total de rendimentos do trabalho seja equivalente ao de 2014 ou que o peso da dívida na renda das famílias, embora alto, seja menor do que o registrado de 2011 a 2017. A previsão ainda é de quase estagnação no crédito imobiliário para o ano que vem.

É como avalia, por exemplo, a Caixa Econômica Federal , que detém quase 70% do mercado. “Temos um orçamento para este ano de cerca de R$ 85 bilhões. No primeiro semestre, já foram emprestados R$ 42 bilhões, sendo que 84% desse valor é com recursos do FGTS, sobretudo para famílias que ganham até R$ 4.000”, diz Paulo Antunes de Siqueira, vice-presidente de habitação da Caixa. O orçamento para este ano equivale ao oferecido anualmente de 2015 a 2017. E a tendência para os próximos três ou quatro anos é igual. Luiz Antonio França, presidente da Abrainc (associação de incorporadoras imobiliárias), conta que não tem ouvido queixas de falta de crédito, mas sente a falta de confiança. “No setor de baixa renda há tanta demanda, um déficit habitacional tão gigantesco e urgente, que um pouco de estabilização e juros mais baixos impulsionam as vendas, como no Minha Casa Minha Vida”, diz.

“Na média e alta renda, acontece algo parecido com o comportamento dos empresários: observa-se desemprego alto, instabilidade nos mercados, incerteza política e, claro, espera-se para ver o que vai acontecer”, afirma França. Celso Petrucci, economista do Secovi-SP (sindicato do mercado imobiliário), tem opinião similar: “A recuperação vem de baixo. As vendas aumentaram, mas o valor médio das operações ainda não”. Sem confiança, a roda da construção não gira. Depois de um primeiro trimestre no vermelho, a atividade, que inclui construção pesada, voltou a cair 0,8% no segundo trimestre, ante os primeiros três meses do ano, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Com a crise, os bancos haviam se tornado mais restritivos na concessão de crédito, mas Fabrizio Ianelli, superintendente-executivo de negócios imobiliários do Santander, diz que os modelos de admissão do banco estão em níveis quase iguais aos pré-crise. “As taxas de juros, que chegaram a ficar entre 8% e 8,5% em 2014 e 2015, também não estão muito distantes”, diz. As taxas do Santander no SFH (Sistema Financeiro da Habitação) iniciam em 8,99%. “Os problemas são aqueles que todo mundo conhece. O nosso mercado depende basicamente de três fatores: juros baixos, desemprego e regulamentação ajustada e racional”, diz França. “Temos taxas de juros no piso histórico, o desemprego é o que se sabe e, na regulação, a insegurança jurídica e as perdas causadas pelos distratos emperram os negócios. No mais, empresários e consumidores, precisamos ter menos insegurança quanto ao futuro”, afirma ele. Ana Castelo, coordenadora de projetos da construção do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia), faz análise parecida: “As famílias estão preocupadas porque o mercado de trabalho reage lentamente e há incerteza sobre o que vai acontecer com a economia”. No trimestre encerrado em julho, a taxa de desemprego ficou em 12,3%, segundo o IBGE. “Isso trava uma decisão de longo prazo como a compra de um imóvel”, diz Castelo.

Petrucci, do Secovi, é dos mais otimistas. Ele diz acreditar que está havendo recuperação considerável das vendas, em particular em São Paulo. A venda de imóveis novos de fato subiu 64% nos últimos 12 meses, voltando ao nível do início da recessão, em 2014. O fundo do poço ocorreu em 2017, com vendas 57% menores. “Os números ruins do crédito devem melhorar em breve. Há uma defasagem nas estatísticas, que logo vão refletir o aumento do número de negócios que estão sendo concretizados”, diz Petrucci. “Mas, como todo mundo, achamos que a recuperação recente nas vendas vai ganhar ritmo com mais clareza no país”, diz.