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Economia
25 de Agosto de 2015
Nordeste sente aperto do governo
Os atrasos no repasses do governo e a perspectiva de que os gastos oficiais devam se desacelerar daqui em diante afetam especialmente a Região Nordeste, que tem a maior taxa de desemprego do País. “Historicamente, a presença do Estado é mais forte na região”, diz Ana Maria Castelo, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo o presidente da CBIC, José Carlos Martins, essa dependência se reflete também na importância do Minha Casa Minha Vida (MCMV) para a sobrevivência do setor no Nordeste.
No caso das construtoras de Alagoas, a paralisação de obras de infraestrutura e os problemas do MCMV levaram a uma forte crise. “Aqui, o peso de obras privadas para a construção é pequeno. O mercado é basicamente composto de obras públicas e do Minha Casa”, diz Alfredo Breda, presidente do SINDUSCON-AL. Segundo ele, nos últimos dois anos, o total de trabalhadores na construção civil alagoana caiu de 36 mil para 18 mil. Conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, no primeiro semestre a construção civil fechou mais de 50 mil empregos no Nordeste.
No Ceará foram abertas 53 vagas, mas o SINDUSCON-CE diz que as contratações foram em obras privadas e que houve demissões no MCMV. No Rio Grande do Norte, o SINDUSCON afirma que um terço das 3 mil demissões registradas pelo Caged foi no MCMV. Na Bahia e em Pernambuco, que tiveram maior número de desligamentos da região, os resultados são afetados também pelo fim de obras de infraestrutura e pela paralisação de projetos de empresas citadas na Operação Lava Jato.
No Nordeste, a maior parte das empresas que atuam no MCMV é de pequeno porte, justamente o contingente que tem menos fôlego financeiro para atrasos de pagamento. “Embora a remuneração não seja tão alta, essas empresas foram atraídas pela previsibilidade dos repasses. Agora, não têm como aguentar o custo financeiro dos atrasos”, explica Carlos Henrique Passos, presidente do SINDUSCON-BA. “Já há fornecedores de materiais de construção se recusando a vender, com medo de não receber.”
Essa fragilidade financeira contribuii para que até obras com 90% de conclusão estejam paradas em cidades como Natal e Maceió. Diante das dificuldades, o setor trabalha com a expectativa de redução no ritmo das obras. Especula-se que o novo desenho do MCMV priorizará as obras que estão com pelo menos 70% executados. Caso os pagamentos sejam regularizados, a expectativa é que esses canteiros retomem o ritmo anterior. Para as obras que não atingiram esse patamar, o prazo para conclusão deverá ser esticado. “A expectativa é que os repasses diminuam em 15%”, diz Martins, da CBIC.
O governo afirma que há um acordo para a solução dos atrasos do MCMV até o fim de agosto, mas a CBIC diz que o acerto original previa a regularização dos pagamentos até o início do mês. O setor está cético em relação à concretização da terceira fase do MCMV. O Ministério das Cidades afirmou está mantida a previsão de liberação de recursos para mais 3 milhões de casas até 2018, que se uniriam às 4 milhões aprovadas até agora. Do total já liberado, porém, 42% (ou 1,7 milhão de unidades) não estão prontos.