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Setor da Construção

13 de Outubro de 2020

Setor imobiliário precisa de lançamentos para a demanda, diz Carlos Henrique

Para o vice-presidente da área de Habitação de Interesse Social da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e diretor do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado da Bahia (Sinduscon-BA), Carlos Henrique de Oliveira Passos, durante o programa Radar Imobiliário, no sábado (10), na rádio Metrópole, a construção teve um comportamento bastante diferenciado da economia mesmo durante a pandemia do coronavírus e conseguiu alcançar números importantes tanto na geração de emprego como nos investimentos para continuidade das obras e também lançamentos imobiliários.

Além disso, foi imprescindível a proteção dos trabalhadores e também o apoio dos governos em todas as esferas para entender a importância da construção durante a crise sanitária. 

Neste bate papo com o apresentador Manuel Gomes, Passos falou desse cenário, da questão dos insumos básicos para a construção, a regulamentação do programa habitacional, Casa Verde e Amarela e mais. Confira na íntegra:

Manuel Gomes - Qual o comportamento do setor da construção durante esse período de isolamento social? 

Carlos Henrique - A construção tem conseguido gerar emprego mesmo quando a economia ainda enfrenta dificuldade na sua reativação. Somente no mês de agosto, o setor gerou mais de 50 mil vagas no país, e teve consequência positiva na Bahia e também Salvador. Então isso demonstra que o setor soube conviver com essa diversidade e o principal instrumento para isso foi enxergar o ambiente de trabalho para que nossos colaboradores pudessem exercer a função sem a necessidade e a consequência de eventualmente contrair doenças nos canteiros. Isso foi o grande mérito do trabalho que nós fizemos durante esse período da pandemia e trouxe um lado positivo diferentemente do que enfrentamos na recessão de 2014, que ao invés de perder, ganhamos emprego e isso foi consequência, mesmo com o Brasil com as contas públicas complicadas. Ou seja, não houve aumento de investimento do setor público, essa geração de emprego veio notadamente do setor privado e dentro dele o principal contribuinte disso é o mercado imobiliário, onde a atuação privada de vendedores quanto de compradores mesmo do Minha Casa Minha Vida (programa habitacional atualmente chamado de Casa Verde e Amarela), que vem com recurso da União não houve contratação. Então na verdade, a geração de emprego veio a partir dos investimentos do setor privado tanto dos empreendedores como também dos compradores desses empreendimentos.

Manuel Gomes - A pandemia trouxe um amadurecimento do setor da construção e inclusive uma capacidade de adaptação rápida, correto?

Carlos Henrique -
Nós tivemos uma capacidade de superação muito forte que se deu por conta da associação das empresas e das entidades. Não só no ambiente obra, mas também no de vendas. As pequenas e médias empresas contam com apoio das entidades, da divulgação de vários caminhos de comercialização, fora do ambiente tradicional, que é o estande físico. Isso foi importante porque conseguiram vender volumes expressivos de vendas e muitas vezes unicamente através da mídia digital, isso foi possível para pequenas e médias empresas, já que as grandes estavam preparadas. E também pela nossa capacidade de associação e de poder multiplicar conhecimento. Mas com esse momento atual já estamos vivendo uma dificuldade, como por exemplo, em relação aos materiais de construção. Os indicadores de inflação dentro da composição dele incluem custos da construção. Como um dos fatores da inflação brasileira vem mostrando que o setor da construção vem contribuindo para uma elevação da inflação e quando decompõe essa inflação na construção civil, ela está unicamente vinculada a questão de materiais e mais uma vez estamos tentando conviver com esse problema da União. Inclusive no Sinduscon abrimos a cooperativa de compra, que estava hibernada. Há 45 dias reativamos e trouxemos novos associados para uma capacidade de compra das empresas de forma coletiva e com isso barganhar uma condição melhor no quesito materiais. Ao mesmo tempo, na CBIC fizemos um documento e entregamos na Secretaria Nacional de Direito Econômico (SNDE) vinculada ao Ministério da Economia mostrando esse comportamento atípico do aumento de materiais e alguns problemas de suprimento de materiais e nele buscamos identificar causas, consequências e propusemos soluções para esse enfrentamento. Estamos com esse diálogo aberto com o Ministério da Economia e algumas coisas já estão acontecendo. Essa semana teremos reunião com o Instituto Brasileiro do Aço, dentro da CBIC e eles vão poder colocar um cenário melhor principalmente em relação a suprimento. E eventualmente também conhecer o outro lado em relação a preço. Não somente com aço, mas temos questões com o cimento, PVC e cobre. Acreditamos que a única solução principalmente para pequenas e médias empresas é a união e ela que dará força para dialogar com o mercado. Muito concentrado do ponto de vista da produção da venda e somente juntos teremos forças para conquistar uma negociação que permita que as empresas tenham um custo que possa gerar unidades e caiba no bolso dos consumidores. Como citado, todo esse movimento do setor da construção se deu pela iniciativa privada imobiliária, ou seja, se o imobiliário está bem porque as pessoas estão comprando. Se não há um movimento de aumento de renda, as empresas não vão ter capacidade de dissolver um aumento de custo, além de um razoável, então essa lógica que nos faz querer juntar as empresas, conversar com os fornecedores para estabelecer alianças, que sejam boas pra todos. 

Manuel Gomes - Na sua avaliação, o que originou o crescimento do preço dos materiais? E qual caminho para mudança?

Carlos Henrique -
O documento que entregamos para o governo, tem esse sentido da origem da causa. Primeiramente a pandemia, quando houve em março e abril uma parada geral da questão produtiva e uma previsão que essa imobilização pudesse se alongar com maior tempo. Especificamente na área do aço, no qual tivemos uma reunião com entidades e com produtores, ficou claro que o mês de abril e maio a siderúrgica parou, então eles ficaram preparados para um cenário de baixo consumo e na construção civil aconteceu o inverso, que a lógica disse que aconteceria. Nós do setor formal produtivo não diminuímos e o esperado era que as obras fossem parar e os cronogramas fossem dilatados. Por outro lado, todas as famílias que ficaram em casa perceberam suas necessidades de melhorias das habitações até da construção da nova moradia e eventualmente aqueles que tinha recursos aplicados usaram com reformas e construção em função da redução da taxa básica de juros. Então esse movimento do varejo somado com a manutenção do consumo do setor empresarial fez com que não houvesse uma redução na venda de materiais de construção. De uma forma geral, como as fábricas ficaram paradas no mínimo dois meses, o desequilíbrio de oferta e procura é uma causa nítida que serve para outros setores que compõem a construção civil. Fora isso tem aspectos internacionais, como a questão do aço e do pvc, além dos aspectos especulativos dos outros setores que não teriam essas causas, mas aproveita a onda, o efeito manada, de também aumentar. Tudo isso gera esse processo de aumento de materiais e temos feitos discussões do assunto, principalmente para mostrar ao governo e aos nossos pares empresariais que não podemos deixar que isso prevaleça em termo de condenar a construção, mas sim contribuir, não só para melhoria da economia, mas para a sociedade. Inclusive o último dado de agosto em relação ao programa do governo de redução jornada e suspensão de contrato de trabalho, atualmente o Brasil tem 16 milhões de trabalhadores nessa situação. Na construção civil tem somente 300 mil, ou seja, o setor da construção contribui em não gerar déficit para o governo. Se a construção civil hoje com 2,3 milhões de trabalhadores de carteira assinada e desse montante, 20%, cerca de 500 mil trabalhadores tivessem que ser sustentados pelo programa, era melhor pegar o recurso e colocar na atividade de produção, do que colocar na pauta para redução de renda e de emprego. Claro que todos têm essa sensibilidade, mas tem questões estruturais da economia, que elas têm que retornar para se realinhar para que o mercado de produção faça o abastecimento correto.

Manuel Gomes - Na última sexta-feira (9) houve o regulamento do programa habitacional federal Casa Verde e Amarela, quais foram os principais pontos alterados?

Carlos Henrique -
O programa habitacional, na parte geral têm uma Medida Provisória que tramita no Congresso Nacional e que vai abrigar dentro dele diversas modalidades de programas e que todas elas são voltadas a solução de moradia para população de baixa renda. Especificamente na questão do Minha Casa Minha Vida (atual Casa Verde e Amarela) sobre o FGTS, algumas alterações foram aprovadas no Conselho Curador e agora está em processo de normatização. Primeiramente pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e depois pelo agente operador do FGTS, que é a Caixa e o agente financeiro, que um dos principais, é a própria Caixa, para que essas alterações cheguem a ponta em benefício das pessoas. E quais foram as mudanças? Primeiro ponto a redução da taxa de juros para famílias que ganham até R$ 2.600. Elas terão uma redução de taxas de juros de 0,25% ou 0,5%, e com isso passam a ter capacidade de pagar uma prestação menor e fazer um financiamento maior. Isso ajuda essas famílias na aquisição da casa própria e essas mudanças têm um peso ainda maior na regiões Norte e Nordeste. Exatamente aquelas que hoje tem tido maior dificuldade em cumprimento do programa habitacional com recursos que são direcionados ao FGTS do conselho curador. Na minha opinião, o maior efeito das medidas vão ocorrer a partir de janeiro de 2021, quando de fato o novo interstício e as empresas adentrarem ao programa e se aprofundarem vão oferecer suas habitações a essa população de menor renda atualmente sediadas nessas regiões. Acredito que o mercado está no momento pujante e dados da CBIC de agosto confirmam um crescimento maior, inclusive fora do mercado econômico. Há um crescimento expressivo do mercado e Salvador está tendo a oportunidade de reconquistar lançamentos imobiliários. É importante para o mercado da capital baiana, porque independente dessa questão de preço de material, o estoque de imóveis, exemplo no País, o estoque da média de vendas que representaria de 18 meses para ser consumido, hoje está abaixo de 10 meses, ou seja, estamos com estoque reduzido perante a capacidade de venda e precisamos de lançamentos imobiliários para reequilibrar esse mercado de imóveis. Inclusive haverá um aumento no preço do imóvel independente de custo, por isso entendemos que é uma oportunidade única das pessoas que querem comprar imóvel, de adquirir agora, é o momento certo, pois a tendência a curto e médio prazo é de alta no valor, tanto pela redução do estoque como pelo aumento de material. Além disso, o que propicia atualmente são os juros e imóveis baratos.

Manuel Gomes - Sobre as possibilidades de reduzir custo de carregamento, inclusive para os processos serem mais rápidos e minimizar a carga para o consumidor mantendo a segurança e a legislação, qual o cenário atual? 

Carlos Henrique -
A CBIC tem um estudo específico sobre isso, que cita o excesso de burocracia que onera o imóvel no Brasil em torno de 12%. E o foco dessa burocracia é a demora nas aprovações dos licenciamentos, que encarece o custo da aplicação empresarial naquele negócio. E o outro custo que é o próprio cartório. Inclusive sobre esse tema durante a pandemia temos conquistados grandes avanços registrais através do conselheiro que pertence ao Fórum Empresarial, ex-presidente do Sinduscon Bahia, Carlos Vieira Lima, que junto com outros líderes do Fórum Empresarial garantiram a aplicação do pagamento das custas do cartório em duas fases. A primeira, a taxa de prenotação e com isso a segunda taxa, que é aquela quando o oficial comunica a análise e aprova. Isso dá mais agilidade ao processo de registro de imóveis e reduz o custo. Toda vez que demoramos muito tempo para tirar um alvará para aprovar, seja na prefeitura, nas concessionárias de serviço (água, luz, etc) e quando estende o prazo dentro do cartório de registro de imóveis para diversos atos que são necessários serem feitos estamos onerando o custo do imovel. 

O programa Radar Imobiliário é veiculado todo sábado das 9h às 10, na rádio Metrópole, 101,3, sob o comando de Manuel Gomes e Silva Rocha. Envie sua pergunta para o WhatsApp (71) 98155-3258 ou 3505-5000.