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Setor da Construção

17 de Agosto de 2020

Obras públicas têm nova metodologia a partir de 2021

Estimativas do Tribunal de Contas da União (TCU) dão conta de que existem mais de 14 mil obras públicas paradas em todo o país. Nelas, já foram investidos cerca de R$ 70 bilhões, e para concluí-las seriam necessários mais R$ 40 bilhões.

Com o objetivo de, entre outros, frear essa sangria, a partir de 2021 o desenvolvimento de projetos e a execução de serviços de engenharia realizados por órgãos da administração pública deverão utilizar a metodologia BIM – do inglês Building Information Modelling, ou Modelagem da Informação da Construção.

A medida, editada por meio de decreto, em abril, integra a Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modelling, instituída pelo governo federal em 2019.

O texto diz que o BIM é um conjunto de tecnologias e processos integrados que permite a criação, utilização e atualização de modelos digitais de uma obra, de modo colaborativo, servindo a todos os participantes de um mesmo empreendimento, em qualquer etapa do ciclo de vida da construção.

Dito no popular, significa desenhar em um computador de última geração uma edificação em várias dimensões [até 8D], com o maior número de informação possível, minimizando falhas, vícios e otimizando os recursos empregados. Da fase de projeto à demolição.

Basta dizer que ainda hoje a maioria dos trabalhos é feita na base da prancheta e do papel, em duas dimensões. Segundo o arquiteto e urbanista Fabbio Péra, 46% das obras públicas possuem "problemas já no projeto".

Sócio na FPE Projetos & Consultoria, Péra foi vencedor de uma licitação promovida pela Secretaria da Administração do Estado (Saeb), buscando empresa com experiência na metodologia para atuação em obra de requalificação da rodovia BA-242, sentido norte, e também em Salvador.

Ele destaca que a tecnologia ainda é pouco difundida no Brasil e que "o governo entende que esse é um processo de aprendizado".

De acordo com o decreto, o BIM será implementado de forma gradual, obedecendo a três fases. A primeira, a partir de 1º de janeiro de 2021, "quando deverá ser utilizado no desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia, referentes a construções novas, ampliações ou reformas.

A segunda fase, a partir de 2024, quando deve passar a ser aplicado na execução de projetos e gestão de obras. Por último, em 2028, quando deverá ganhar escala.

Visando atender às novas exigências, o governo do estado, por meio da Secretaria de Infraestrutura e a empresa Autodesk, promove, dia 27 deste mês, o BIM Day Bahia: Primeiros passos de BIM no Governo do Estado. O evento é online e será transmitido ao vivo, a partir das 15h.

Investimento alto

Representante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU) e da Câmara Brasileira de BIM, Frank Caramelo fala que, de tão completa, a dificuldade em compreender a tecnologia é "proporcional à sua complexidade". Ele lembra que os benefícios da metodologia são amplamente divulgados em países como Dinamarca, Suécia, Reino Unido e Holanda, que não só sugerem a sua adoção em obras públicas, como, em alguns casos, também nas particulares.

Caramelo ressalta, contudo, que a tecnologia ainda é cara e requer alto investimento em software, hardware e capacitação.

"É um passo muito importante para a disseminação do BIM como metodologia e ferramenta na diminuição dos indícios de irregularidades graves em obras públicas, em especial os que ensejam recomendação de paralisação pelas auditorias realizadas do TCU", fala.

Especialista em construção de baixo impacto ambiental, representante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea), Marcos Botelho vê de maneira "positiva a orientação" [do governo], ressaltando que a tecnologia "tem muito a contribuir para a transparência nas intervenções públicas".

Para o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção da Bahia (Sinduscon), Alexandre Landim, a disseminação do BIM é até mesmo uma "nova janela de oportunidades que se abre" no setor. "Essa ferramenta traz muito acerto, precisão. Reduz margem de erros, identifica os conflitos. Você entra na construção antes de ela ficar pronta. É muito mais rápido", afirma.

"A medida é muito bem-vinda, dentro do esforço de agregarmos mais qualidade ao processo produtivo da construção civil. Se dentro do setor de obras privadas ainda temos poucas iniciativas completas de uso da tecnologia BIM, que seja o setor público a sua locomotiva", fala Adriano Mascarenhas, sócio-fundador do escritório Sotero Arquitetos.