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Política

09 de Outubro de 2018

Mercado vê mais chances de aprovação de reformas com novo Congresso

A vantagem de 16,5 pontos porcentuais que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) obteve sobre Fernando Haddad (PT) e a composição mais conservadora do Congresso Nacional levaram o Ibovespa, principal índice da Bolsa paulista, a movimentar R$ 28,9 bilhões ontem, o maior volume nominal da história. A interpretação dos investidores é de que o novo perfil do Congresso poderá dar governabilidade a Bolsonaro, permitindo que ele encaminhe reformas econômicas, caso seja eleito. Apesar do feriado nos Estados Unidos – que costuma enfraquecer o movimento nos mercados –, a Bolsa fechou o dia com alta de 4,57%, aos 86.083 pontos – nível mais elevado em quase cinco meses. O dólar se descolou do exterior e terminou em queda de 2,40%, aosR$ 3,76 – cotação mais baixa em dois meses. “Nenhum analista político havia previsto uma renovação como a que se deu no Congresso nem a vitória de governadores que apoiam Bolsonaro. O mercado comemorou esses resultados”, disse a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. Ela destacou, porém, que os investidores estão desconsiderando os riscos futuros. “A agenda econômica fica de escanteio no discurso de Bolsonaro. Ontem (domingo à noite), ele falou em reduzir a carga tributária e privatizar 50 estatais, o que não é possível.” 

O economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria, destacou que, apesar de o conservadorismo ter crescido no Congresso, ainda há dúvidas em relação à capacidade de articulação política do candidato de direita. “Prevaleceu o conservadorismo, o que mostra que talvez não seja tão complexo para Bolsonaro, se ele vencer, montar uma base. Mas a gestão dessa base gera preocupação.” 

As ações das empresas relacionadas ao governo estão entre as que mais avançaram ontem. Os papéis ordinários (com direito a voto) da Eletrobrás subiram 17,3%. O economista Paulo Guedes, responsável pelo programa econômico de Bolsonaro, já indicou a intenção de dar continuidade ao projeto do presidente Michel Temer de privatizar a companhia. As ações preferenciais da Petrobrás (sem direito a voto) foram as mais negociadas, movimentando R$ 947,7 milhões e subindo 11%. Segundo Campos, a alta nesses papéis decorre da análise dos investidores de que as estatais estarão mais blindadas de uma gestão politizada do que estariam em um eventual governo petista. “Não é só a questão da possível privatização.” Na semana passada, o general Oswaldo de Jesus Ferreira, da equipe de Bolsonaro, disse ao Estado que um possível governo do PSL não privatizaria empresas estratégicas, como Furnas, Caixa e Banco do Brasil. 

O analista Glauco Legat, da Spinelli Corretora, também citou o relacionamento entre Bolsonaro e Paulo Guedes como uma fonte de preocupação. “Hoje (ontem), o mercado viveu apenas o lado positivo, mas a volatilidade não foi afastada, porque ainda se espera um contra-ataque do PT”, acrescentou, em referência às mudanças que podem ocorrer durante a campanha no segundo turno. O risco Brasil medido pelo Credit Default Swap (CDS) – um derivativo de crédito que protege o investidor contra calotes na dívida soberana – também recuou ontem, chegando a cair 9%, para 220 pontos base, o menor nível desde 8 de agosto.