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24 de Agosto de 2022
Imóveis estão até 18% mais caros
A busca por um novo imóvel se tomou mais difícil para quem deseja comprar uma casa ou apartamento em Salvador. O motivo para a dificuldade é o mesmo de outros setores da economia: o preço nas alturas. Na capital, a variação média do valor do m2 para a venda de empreendimentos residenciais chegou a 18,6% nos últimos 12 meses finalizados em julho. O Rio Vermelho lidera o ranking dos bairros que tiveram maior valorização no período, seguido por Imbuí (13,6%) e Pernambués (12,6%). O Rio Vermelho e Pernambués agora ocupam, respectivamente, o quarto e quinto lugares na lista dos locais com o m2 mais caro da cidade (veja abaixo).
Estudante de medicina veterinária da Universidade Fe -deral da Bahia (Ufba), Yasmin Cristine, 21, não vê a hora de sair da casa onde mora, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana, e se mudar para mais perto da universidade. A jovem até já perdeu oportunidades de estágio por conta da distância. A busca pelo apartamento começou em março deste ano e parece ainda não ter indicativos de chegar ao fim.
Nos bairros mais próximos do campus de Ondina, em que procura com mais afinco, Yasmin conta que ainda não encontrou imóveis que valessem a pena, o que tem feito com que o raio de procura se estenda um pouco mais. "Não está tendo muito custo-benefício em bairros como Barra, Ondina e Graça. Os apartamentos estão acabados e caros. Os melhores que encontrei foram no Imbuí, mas ainda é muito distante da faculdade", afirma.
A jovem tem razão quando reclama dos preços mais caros. De acordo com o índice FIPEZAP+, a variação do preço médio de venda de imóveis residenciais nos últimos 12 meses, finalizados em julho deste ano, é a maior desde 2014. Houve incremento de 5,22% em Salvador, contra 7,9% naquele ano.
Enquanto isso, o valor médio do m2 na capital ficou em R$ 5.547 no mês passado. Especialistas ouvidos pela reportagem estão de acordo quando o assunto é a causa do aumento de preços: a pande-mia aumentou a procura, e como a oferta de imóveis é baixa aqui, o valor subiu.
CARACTERÍSTICAS
Salvador, no entanto, é uma cidade grande, que precisa ser analisada cuidadosamente, levando-se em consideração condições socioeconômicas de cada um dos seus 170 bairros. Nos locais em que a estudante procura apartamento, por exemplo, estão localizados os m2 mais caros da capital. Na Barra, o m2 registrou alta de 3,9% nos últimos 12 meses e custa em média R$ 7,7 mil. Já no Rio Vermelho a média é de R $ 6,4 mil a cada metro quadrado.
Isso significa que se a família de Yasmin resolver comprar um imóvel de dois quartos e 64 m2 no bairro mais caro de Salvador, precisará desembolsar uma média de R$ 493,4 mil. Em algumas regiões houve redução dos valores na comparação com um ano atrás, é o caso de Brotas (-3,4%) e Graça (-0,9%). A pesquisa levou em consideração uma amostra composta por 38,9 mil anúncios online de imóveis na cidade.
SETOR AQUECIDO
A maior procura por imóveis em um cenário em que a ofer -ta não é suficiente é a principal causa para o aumento do preço do metro quadrado na capital, segundo José Alberto de Vasconcellos, diretor do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci-BA). "Há dois ou três anos, o pessoal não estava construindo. Então, os imóveis que deveríam ficar prontos agora não existem. Por isso os preços dos que estão à venda subiram", diz.
Fatores econômicos, como a baixa taxa de juros, ajudaram a aquecer o setor, como explica José Alberto: "Recentemente, as taxas de juros estiveram lá embaixo, o que fez com que muitos imóveis fossem comercializados com preços mais altos, devido a essa facilidade".
Corretora de imóveis há 12 anos, Flávia de Almeida Félix analisa também que necessidades surgidas na pandemia, como um escritório em casa, alavancaram os negócios. "O cenário imobiliário hoje está superaquecido, os imóveis tiveram uma valorização muito alta justamente pela pandemia. Muitas famílias venderam os apartamentos para comprar outros maiores".
A procura por um lar mais espaçoso e confortável é o que move a advogada Gleisiane Pereira, 29, há seis meses. Quando tinha 10 anos, ela se mudou com os pais para o bairro do Trobogy e agora procura uma nova residência na região da Av. Paralela ou em Lauro de Freitas. "Busco um local com mais infraes-trutura e melhor localizado, mas os preços estão muito ca -ros e fogem da realidade da população", diz.
OUTRAS CAPITAIS
Apesar do cenário não ser favorável para compradores em Salvador, a realidade daqui ainda é melhor do que em muitas capitais do país. A cidade ocupa a 11° posição no ranking de variação de preços na venda de imóveis residenciais no últimos 12 meses. Salvador teve alta maior do que Brasília (4,4%), São Paulo (3,9%), Rio de Janeiro (2,4%), Porto Alegre (2,4%) e Manaus (2,1%). Na contramão, a cidade com maior variação de preço no período foi Vitória (21,9%). O levantamento da FIPEZAP+ analisa 15 capitais.
Para o economista do Da-taZap+, que mede o índice FI -PEZAP+, Pedro Tenório, os preços dos imóveis devem continuar a subir, mas em um ritmo não tão acelerado.
"A tendência é que os preços continuem aumentando, mas em um ritmo cada vez menor, já que o momento de maior aquecimento do mercado ficou para trás, mas isso em termos médios. A tipologia e localização dos imóveis são fundamentais tanto em nível de preço quanto para sua variação", explica.
José Carlos também acredita que o melhor momento para investir na compra de um imóvel passou, mas que o cenário continua sendo interessante para quem planeja vender um para comprar outro. "O momento realmente bom [para investir] foi quando a taxa Selic estava em 2,5%. Agora, com ela chegando a quase 14% ao ano, influencia nas taxas de financiamento, então a prestação é bem maior. Se a pessoa vai vender um para comprar outro, é o mesmo referencial de mercado, mas para só comprar outro, é preciso analisar bem, porque os preços de fato subiram", explica.
PROCURA
Tanto a estudante Yasmin, como a advogada Gleisiane, contam que procuram imóveis preferencialmente nas plataformas digitais de compra e venda, como o Zap Imóveis e Viva Real.
Cleo de Souza, corretora de imóveis, que forma com o marido, Murilo Borges, o Casal Le Pare, reconhece que os avanços tecnológicos facilitam a busca por imóveis. Entretanto, a profissional, que já atua no ramo de residências de luxo há seis anos, afirma que é importante que os compradores sejam acompanhados por pessoas especializadas na hora da escolha.
"As plataformas digitais cada dia melhoram a qualidade de imagens e vídeos e os aplicativos facilitam a divulgação de imóveis. Mas é sempre bom ser acompanhado por um profissional de confiança, com o objetivo de orientar na aquisição de um imóvel de forma segura e eficiente", defende.
Imóveis novos também estão mais caros
Não são só os proprietários que estão anunciando imóveis com valor mais caro em Salvador. Os valores dos novos lançamentos imobiliários também registram alta de preços, como lembra o diretor do Creci-BA, José Alberto. "Os lançamentos não precisam nem de muita publicidade porque os imóveis estão sendo vendidos imediatamente. Isso era uma carência muito grande do mercado, mas é algo que não se resolve em um ou dois anos. Até porque um prédio para ser contruído demora pelo menos 24 meses", diz.
Além da procura maior, outro motivo para que os novos empreendimentos estejam custando mais caro é a falta ou a inflação dos principais insumos usados pela construção civil.
Uma pesquisa de sondagem feita no segundo trimestre deste ano, pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), apontou que a falta ou o alto custo de matéria-prima é o principal problema citado por 47,7% dos empresários do ramo. Os insumos que mais sofreram aumento entre julho de 2020 e junho de 2022 foram os vergalhões e arames de aço carbono (99%) e tubos e conexões de ferro e aço (89%), de acordo com o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC).
"A escassez fez com que os insumos tivessem aumento de preços muito superiores à inflação, o que empurrou o preço da construção e dos imóveis para cima. Passamos oito trimestres registrando aumento nos valores dos materias e agora me parece que há sinais de estabilização", analisa o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA), Alexandre Landim.
Apesar disso, o setor está aquecido no país e uma prova disso é o número de novas contratações realizadas neste ano pela construção civil. Só em junho foram criados mais 30 mil novos postos de trabalho no Brasil, de acordo com o Ministério do Trabalho e Previdência. Já no primeiro trimestre do ano, foram 184 mil carteiras de trabalho assinadas, o melhor resultado em 10 anos para o ramo das construção.
Fonte: Correio da Bahia